sexta-feira, 26 de agosto de 2011

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO AO APOCALIPSE

§1.1) Definição do termo “Apocalipse”
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O termo vem do grego αποκάλυψις, que pode significar revelação, descortinação, levar à tona algo que estaria submerso e desvelar algo em oculto;
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No contexto bíblico, significa a revelação de Deus feita aos homens, de coisas que até então eram desconhecidas;
§Na tradição judaica esse gênero literário era muito comum, tanto é que encontramos diversos escritos: Apocalipses de Henoc, Abraão, Baruc, Assunção de Moisés, O quarto livro de Esdras e outros.



§1.2) A origem da tradição apocalíptica
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A literatura apocalíptica judaica surgiu entre o Antigo e o Novo Testamento em torno do ano 180.a.C. num período chamado pelos cristãos e judeus como período do silêncio profético;
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A situação política e social para os israelitas nesse período era de opressão, torturas e ameaças de morte por toda parte do poderoso império, liderado pelo monarca Antíoco IV (Epifanes).



A linguagem do apocalipse tinha a forma apropriada para anunciar a esperança em tempos de perseguição e falta de profecia. Era a maneira de comunicar uma mensagem de conforto para o povo perseguido e desiludido, numa linguagem codificada através de símbolos para que seus perseguidores não desconfiassem de nada.


Devido ao contato direto e convívio com as culturas estrangeiras durante o período dos exílios, a literatura apocalíptica foi diretamente influenciada por essas culturas. A influência da cultura persa foi muito marcante, principalmente da religião e escatologia do Zoroastrismo.



§O livro de Daniel é sem dúvida um dos mais conhecidos escritos apocalípticos que recebeu influências da escatologia persa naquele tempo;
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Os escritos apocalípticos possuiam um certo padrão definido, mas poderiam ocorrer algumas diferenças em função do estilo da escrita de cada autor, Esses escritos eram considerados como revelações sobre os segredos divinos, os quais Deus revelou a indivíduos escolhidos para serem os interlocutores dessas mensagens.



Os apocalípticos descreviam suas revelações em formas contrastantes, de um lado, apresentavam visões dos impérios tiranos e opressores (Dn. 7,3-8), do outro, um reino humano do Filho do Homem (Dn. 7,9-14). De um lado, o dragão e a besta (Ap. 13,1-18), do outro, o Cordeiro e seu exército (Ap. 14,1-5); de uma lado, Babilônia, a grande meretriz (Ap. 17,1-18), do outro, Jerusalém, a noiva do Cordeiro (Ap. 21,1-22,5).


Os apocalípticos apontam em direção daquilo que é certo em relação aos planos de Deus, mostrando que a vitória estaria garantida, dando esperança ao povo (Ap. 11,17-18; 21.1-8; 22.35). Tudo aquilo que vinha da parte de Deus era bom, porém, tudo que vinha para impedir a vitória do povo escolhido, vinha de Satanás (adversário). No livro de Daniel, o autor relata a perseguição imperial aos Santos do Altíssimo (Dn. 7,21.25; Ap. 13,7). Por isso, na descrição que fazem dos impérios (Dn. 7,3-7; Ap. 13,1-18; cf. 17,1-18) nada apontam de bom, o império é obra de Satanás, do dragão (Ap. 13,1-2).

Conclusão:

Conclui-se que o gênero apocalíptico é uma forma de se fazer uma leitura da história a partir da fé. Essa tradição surge em épocas de desesperança, onde a visão de fé das comunidades é brutalmente ameaçada pela violência dos fatos. Os temas centrais dos escritos apocalípticos assumiam exortações proféticas como a confiança em Deus e na sua justiça Divina, na recompensa e libertação do povo etc. 






§1.3) As quatro formas de interpretação do Apocalipse
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O livro do apocalipse desde os primórdios da tradição da igreja foi questionado quanto ao seu conteúdo e principalmente quanto a sua interpretação. Qual seria a interpretação correta? O que se passava pela cabeça do escritor? Essas sempre foram algumas das milhares de perguntas que ficaram sem respostas por séculos, até os dias de hoje. Vamos conhecer as quatro posições interpretativas mais discutidas ao longo da história.


§1ª) A interpretação preterista:

Essa linha de interpretação considera que o Apocalipse é um livro do seu tempo, e escrito para o seu tempo, ele não prediz o fim da história e nem fala do fim do mundo. Ele foi escrito para animar, dar esperanças e avivar a fé e o espírito de unidade das comunidades perseguidas pelo império romano, utilizando uma linguagem simbólica codificada, onde esses símbolos são associados a personagens e fatos da época, como por exemplo, “o número da besta” 666, que na verdade, transformando esses números em letras, formam o nome de “César Nero” o imperador sanguinário e louco perseguidor dos cristãos.

§2ª) A interpretação histórica:

O método historicista interpreta o livro do Apocalipse dentro de uma visão profética histórica, interpretando as visões como descrições antecipadas da história desde o tempo do apóstolo João até o período do segundo advento. Alguns pesquisadores vêem no Apocalipse uma espécie de quebra cabeça histórico e procuram montá-lo para tentar decifrar datas e períodos em que vai acontecer o fim do mundo. Essa linha de interpretação é ultrapassada, poucos eruditos seguem essa linha, apenas alguns grupos isolados como os Adventistas do Sétimo Dia. 

§3ª) A interpretação futurista:

O Apocalipse descreve só as coisas que vão acontecer no final dos tempos, antes da volta de Jesus. Essa linha de pensamento é bem aceita entre os pentecostais e carismáticos. Muitos se denominam como os “eleitos dos últimos dias”. Para eles, estão vivendo já nos dias finais, prontos para serem arrebatados e encontrarem com Jesus nas nuvens. Essa é a linha de interpretação que fala sobre a “grande tribulação” e o “milênio”, baseado no Apocalipse (Ap.20.16). Essa linha de interpretação é a mais aceita atualmente.

4ª) A interpretação idealista ou espiritualizada: §

Essa linha de interpretação considera que todo o conteúdo do livro do Apocalipse apresenta-se de forma figurada e muitas vezes metafórica. O livro não descreve o desenrolar da história, nem fala do final dos tempos e muito menos se prende à situação das comunidades da época. Sua visão é mais abrangente, fala de todas as épocas e todos os acontecimentos relativos ao passado, presente e futuro. Procura revelar uma dimensão mais profunda dos fatos, para mostrar a ação soberana de Deus e a continuidade do seu plano salvífico.

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1.4) Os riscos do movimento apocalíptico
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Corremos grande risco de cometer injustiças com o autor do livro, quando não fazemos um interpretação madura da linguagem simbólica e codificada do livro do Apocalipse. Uma interpretação equivocada e leiga deste livro, pode gerar atitudes extremistas como medo, fundamentalismo, fatalismo, determinismo, sectarismo e até preconceitos em relação aos cristãos de confissões de fé diferentes e em relação a outras religiões tradicionais. 



§1º) Risco de fundamentalismo
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A principal tendência do fundamentalismo é interpretar tudo ao “pé da letra”, e através desta, procurar impor essa leitura como a única verdadeira. Isso aconteceu no primeiro século, quando os judeus apocalípticos se rebelaram contra o império romano em 70d.C. e acabaram perecendo, como em massada, que todos os judeus resistentes na fortaleza cometeram um grande suicídio coletivo. A falta de esclarecimento das visões que, às vezes, nem o próprio profeta é capaz de entender (Ap. 7.14; Dn. 8.15), aliada à ansiedade do povo, sufocados pela opressão, podem levar a essas atitudes fundamentalistas.

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2º) Risco de imobilismo devido ao fatalismo
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Segundo o Apocalipse, o plano de Deus para a salvação dos fiéis já está pronto e definido na dimensão espiritual, assim como o inferno para os condenados. Pensando assim, não nos resta fazer mais nada, além de esperar o juízo final, pois de que adiantaria fazer alguma coisa, se o fim é inevitável. É aí que mora o perigo do imobilismo e fatalismo, fazendo com que as pessoas deixem de participar do desenvolvimento por um mundo melhor.



Isso aconteceu na comunidade de Tessalônica, onde a comunidade cristã daquela região resolveu cruzar os braços e abandonar suas tarefas, se preocupando apenas com o fim inevitável do mundo, que eles achavam que estava próximo de acontecer, e essas discuções geravam muitas conflitos na comunidade. Muitos ficavam totalmente paralisados sem fazer absolutamente nada (II Ts. 3.11).

 

§3º) Risco de isolamento e sectarismo
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Este risco foi e ainda é muito presente em algumas denominações cristãs muito conservadoras. Ensinam que os pobres e os perseguidos são os verdadeiros “Santos do Altíssimo” (cf. Dn. 7,22-25; Ap. 11,18; 12,11; 16,6), que serão os salvos no “Dia do Senhor”. Essas pessoas que pensam assim, se consideram como os verdadeiros eleitos, e por isso, procuram se isolar e passam a evitar o contato com aqueles que não pensam iguais à eles, pois esses seriam os condenados.



Na verdade, isso dentro do contexto dos evangelhos, acaba sendo uma postura contrária ao que é pregado nas Escrituras, pois em vez de difundir o Reino de Deus, realizar o ide de Cristo, realizar a missão de servir à humanidade e ser luz das nações (Is. 42,6; 49,6; At. 13,47), acabam se isolando.



Isso ocorreu também na Bíblia, quando Pedro, diante da transfiguração de Jesus, se sentiu bem ali naquele lugar a ponto de não querer descer mais dali do monte. Ele propôs que ficassem ali isolados na montanha, porém, não sabia o que dizia (Lc. 9,33). Aconteceu também na ascenção de Jesus, quando os dois varões vestidos de branco, não deixaram que os apóstolos ficassem parados, com os olhos fixos no céu (At. 1,11), porque na verdade, eles tinham uma missão para cumprir aqui nesse mundo (At. 1.7-8).


§4º) Risco de temor e manipulação
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Para muitos, a experiência de Deus segundo as profecias do Apocalipse, geram espanto e pavor. Como aconteceu com Moisés, que evitou ver a Deus para não correr risco de vida (Ex. 3,6), com Daniel (Dn. 7,15; 8,17) e João (Ap. 1,7) também aconteceu o mesmo. Eles ficaram aterrorizados com as visões. As imagens fortes e violentas ilustradas no livro do Apocalipse, servem para gerar medo e temor não nos oprimidos, e sim nos opressores.



Porque para os oprimidos, a mensagem do livro procura trazer conforto e um forte sentimento de justiça, mostrando que a mão de Deus pesará nos seus adversários. Muitas vezes, a manipulação parte da própria igreja, que ao invés de usar o Apocalipse a favor dos justos e fiéis, acaba usando de forma moralista para intimidar esses. Deus não pretende aterrorizar os fiéis, pelo contrário, procura confortar: “Não tenham medo!” (Ap. 1.17), “Não chore!” (Ap. 5.5).


§1.5) Algumas regras básicas para interpretar o Livro do Apocalipse
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O Apocalipse pertence a um tipo especial de literatura, chamada de “Apocalíptica”. Para entendê-lo, é preciso lembrar que sua forma se aproxima mais da poesia do que da prosa;
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§O Apocalipse tem suas raízes no Antigo Testamento: é ali que se encontram as pistas que permitem entender o significado dos vários símbolos;



§Trata-se de um livro de visões. O importante é o significado geral de cada quadro. Assim como no caso das parábolas, devemos olhar em primeiro lugar para o todo, para descobrir a idéia principal;
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§A cronologia é, em grande parte, uma preocupação ocidental moderna. As visões de João são apresentadas como uma série de imagens gráficas, e não como uma sequência ou um cronograma de acontecimentos;

Antes de fazer a relação com os nossos dias, pergunte: “O que isso significava para os primeiros leitores?”.




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Um comentário:

  1. Bom dia querido,nossssssaaaaa muito bom o estudo vc é ótimo...estou saindo edificada,estou mudando de estado indo em busca dos meus sonhos acreditando no que nimguem acredito mas meu Deus sim tem dado provas que é comigo e meus sonhos...Antes de ir quero muito que fique com estas palavras: Deus tem fé em você,não esqueça jamais do teu potêncial teu esforço e teu silêncio,será teu golpe surpresa,para aqueles que não acreditaram em você .
    Não te esqueça Deus permitirá,todos que não acreditaram em você e teu potêncial,do teu lado para ver teu valor, e aplaudir tua vitória. Ei! Você é especial e tem potêncial!
    Fica com papai do céu bj no coração toda sorte de benção, volto logo!

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